O que significa, afinal, ser europeu? Mais do que pertencer a um território de geografia partilhada, há um conjunto de valores que todos temos em comum e que em muitos sítios pela Europa fora estão neste momento a ser postos em causa. Nesta edição vamos viajar entre Portugal, a Polónia e as próprias fronteiras da Europa.
Livre.
O Tratado da União Europeia e a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia dizem-me que eu, que nós, somos em primeiro lugar livres.
Livres para vivermos a vida que entendermos, no sítio que escolhermos dentro da Europa. Livres para assumirmos a nossa identidade, as nossas opiniões, escolhas e orientações sem termos qualquer receio disso.
Quando falamos da Europa não estamos a falar apenas de um território geográfico partilhado, mas também de uma partilha de valores fundamentais que nos define não só como europeus mas também, em última instância, enquanto seres humanos.
Não deixa de ser curioso que a edição de um tema do REC dedicado à Europa tenha recaído num jornalista que vive neste momento fora da Europa, na Turquia (e nem sequer na parte turca ainda considerada continente europeu, mas na parte asiática). Mas talvez por ter agora esta perspetiva “de fora” a primeira questão que me ocorreu quando o tema me foi proposto foi: afinal, o que é isto de se ser “europeu”?
Quando vivemos toda a vida na mesma realidade temos a tendência para tomar as coisas que temos como garantidas. E uma delas é a liberdade. Viver num país onde a liberdade de expressão e de opinião são diariamente postas em causa, e consequentemente o trabalho dos próprios jornalistas, faz-nos olhar com outros olhos para um direito que julgávamos adquirido.
Para além da liberdade, outros direitos fundamentais dentro do espaço europeu são o respeito pela dignidade e os direitos humanos, a igualdade e o respeito pelas minorias, sejam de que natureza forem. Só que não é isso que está a acontecer neste momento em muitos países europeus.
Na Hungria tem dado que falar nas últimas semanas a aprovação de legislação discriminatória para a comunidade LGBTQI+ (Lésbicas, Gays, Bisexuais, Transgénero, Queers e Intersexo), mas há mais países onde esta comunidade está numa luta feroz pelos seus direitos, como a Polónia. Nesta edição olhamos para o combate que está a acontecer neste momento no seio da sociedade polaca, e como uma aliança entre politica, justiça, religião e media tem feito regredir os direitos desta comunidade.
Ser livre é igualmente poder não apenas viajar sem qualquer entrave no espaço europeu, mas também escolher o país onde se quer trabalhar e residir. Por isso vamos conhecer as histórias de quatro artistas europeus a viver em Portugal: que comparações fazem com os seus países, e por que motivo escolheram ficar por cá. Afinal, o que é que Portugal tem?
Defender valores como a liberdade e a dignidade humana não significa que apenas o façamos dentro do nosso espaço europeu, mas numa perspetiva global.
A liberdade de escolhermos o nosso destino e podermos lutar por uma vida melhor para nós e para a nossa família é tudo o que querem milhares de refugiados e migrantes que nos últimos anos têm procurado a União Europeia, muitas vezes pondo em risco a própria vida.
Associamos quase sempre o fenómeno dos refugiados a guerras ou perseguições políticas e religiosas, mas há um fator que já está a ter impacto e será cada vez mais significativo no futuro: as alterações climáticas. Só que o conceito de “refugiado climático” é ainda problemático, e nesta edição percebemos também porquê.
Vivemos atualmente também num mundo em que o fenómeno da “desinformação” e das chamadas “notícias falsas” põe em causa muitos dos valores europeus, e mesmo a própria democracia. Chegámos hoje em dia a um paradoxo em que a função do jornalista já não é apenas a de procurar relatar a verdade dos factos com o maior rigor possível, mas também a de desmontar as mentiras que proliferam muitas vezes de forma descontrolada entre a opinião pública, impulsionadas pelo alcance inédito das redes sociais.
“Viralizar a verdade” tornou-se, ironicamente, um dos grandes desafios da nossa época. Num extenso trabalho multimédia que publicamos no site do REC explicamos não só como é que este fenómeno cresceu de forma tão exponencial na última década, mas também o que está a ser feito para o tentar combater, e também ao nível da União Europeia.
Finalmente, também no site do REC vamos fazer algo que há muito não podemos fazer por causa da pandemia: ir a um bar. (E só o podemos fazer agora porque estamos a falar num sentido figurado, porque o bar permanece fechado).
O bar “Europa” é há várias décadas uma das referências históricas da noite no Cais do Sodré, em Lisboa, ponto de encontro não só de visitantes vindos de diferentes países como também de vários DJs europeus. Como olham eles para a União Europeia e para este tempo histórico que estamos a viver?
Neste programa participaram Bruna Fornelos, Maria Francisca Carvalho e Rui Abreu da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, do Instituto Politécnico de Tomar; Miguel Carvalho Gomes do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa; Adriana Alves, Diana Gomes, Mariana Coelho e Sofia Nunes, da Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa; e Beatriz Pereira e André Moreno da Universidade Autónoma de Lisboa. A locução do podcast é de Beatriz Pereira, a edição é de João Santos Duarte, a pós-produção áudio de Rui Rocha e a coordenação é de Sandra Marinho.