Cherovia: um produto tradicional com uma pitada de inovação

Carolina Fernandes, Ana Margarida Rodrigues e Inês Salvador (Universidade da Beira Interior)

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Cherovia. Fotografia: Taberna A Laranjinha

Cherovia, pastinaca, chirivia ou pastinaga, pouco importa o nome que se dá a uma raiz que já faz parte da  identidade da Covilhã. 

Cherovia ou Pastinaca, são nomes curiosos dados a uma das maiores iguarias da cidade da Covilhã. Apesar de poucos conhecerem esta raiz, a verdade é que a sua existência foi identificada cientificamente em 1937. O tubérculo, semelhante a uma cenoura, com cor de nabo e alto teor nutritivo, é hoje um ingrediente que marca a gastronomia da cidade neve. 

A cherovia assemelha-se a uma cenoura

Apesar de, nos dias de hoje, não ser muito conhecida, certo é que houve tempos em que a cherovia fazia as vezes da batata. Foi assim pelo menos até ao século XVI. À Covilhã, a cherovia chegou pelas mãos dos ingleses. O facto de a cidade neve ter um clima semelhante aos dos países nórdicos, fez com que este tubérculo se desenvolvesse facilmente na região. Embora se possa encontrar este produto no norte da Europa, a verdade é que os covilhanenses transformaram este tubérculo num verdadeiro produto gastronómico, confecionado de formas muito distintas.

Áudio: Paulo Carvalho, um dos confrades fundadores da Confraria da Pastinaca e do Pastel de Molho, explica como a cherovia é tradicionalmente confecionada na Covilhã.

A pastinaca é um produto sazonal, plantada nos meses de verão e, posteriormente, colhida entre setembro e outubro. Pelo facto de não ser um produto abundante, devido ao curto período de tempo de existência, este legume torna-se dispendioso. Paulo Carvalho enumera vários aspetos que, juntamente com o elevado custo do produto, justificam a reduzida aposta na cherovia por parte dos restaurantes locais. 

Áudio: Paulo Carvalho explica as características da cherovia e o que a torna um produto que nem sempre está presente nos restaurantes.

A dinamização do produto tem vindo a ganhar força nos últimos tempos, o que se traduz numa evolução e reinterpretação gastronómica da cherovia. Para além de continuar a ser apresentada nas formas mais tradicionais, a cherovia integra hoje as mais variadas preparações, seja na confeção de bolos ou de licores.

Cherovia confecionada na sua forma tradicional, com farinha e ovo

A Taberna “A Laranjinha” é um dos restaurantes, largamente premiado, que tem procurado novas abordagens para este produto típico da região. Ricardo Ramos, proprietário do estabelecimento, dá conta da forma como a cherovia está presente no seu menu de degustação.

Áudio: Na Taberna “A Laranjinha” a cherovia é confeccionada das mais variadas formas. 

Apesar de defender a tradição, na Confraria da Pastinaca e do Pastel de Molho ninguém se  opõe à inovação, porque afinal o mais importante é promover o produto e a região.   

Áudio: Paulo Carvalho defende a promoção da inovação na utilização da cherovia.

Frita ou assada, em puré ou em bolo, a cherovia nutre-se de uma versatilidade ímpar. Embora seja um produto desconhecido para muitos, a verdade é que os sabores, texturas e aromas desta iguaria covilhanense começam a ecoar para lá da serra. O que um dia foi inglês é hoje da cidade neve. Embora se desenvolva numa terra fria, a cherovia aquece os corações e a alma de quem a prova.  A mistura entre a secularidade e a modernidade do produto traduz-se na receita mágica que eleva a cherovia a marca identitária da Covilhã.