Conferência ‘Ensino do Jornalismo: entre a escola e a redação’ – resumo do segundo dia

0
1264

A sessão do dia 21 de maio retomou o debate com uma reflexão introdutória de Francisco Sena Santos sobre a reportagem, género que classificou como um “bem precioso e essencial”.

Apoiando-se nas experiências de diversos repórteres ou jornalistas que considera fundamentais para a evolução deste género jornalístico, como o português Pedro Rosa Mendes e o polaco Kapuściński, Francisco Sena Santos assinalou a importância do debate sobre a reportagem e o seu ensino. Deixou, como mote para a discussão, a questão do tempo disponibilizado pelos cursos de jornalismo (e áreas afins) para que se possa desenvolver características fundamentais, como a arte de pensar, o culto multidisciplinar e o gosto de aprofundar a história contada.

 

 

O mote dado por Francisco Sena Santos revelou-se transversal ao painel ‘Ensino da Reportagem em Portugal e a Experiência REC’, que contou com a participação dos dois principais grupos de intervenientes do projeto REC: os estudantes de jornalismo e os professores de jornalismo (e/ou jornalistas).

Os primeiros focaram as suas intervenções na importância conferida à reportagem no seu percurso académico, bem como na partilha de experiências com este género jornalístico e respetiva importância do curso para a sua valorização (ou não). Já os segundos circunscreveram as suas declarações ao papel da academia no estímulo do interesse dos estudantes pela reportagem, a forma como os seus estudantes veem e trabalham a reportagem e, ainda, a evolução do processo do REC, em termos de qualidade dos trabalhos realizados.

A discussão suscitada assentou, essencialmente, em questões como a (in)definição da essência da reportagem, na cultura de informação instantânea que contraria as bases deste género e a baixa recetividade do público para algo que vá além de uma “notícia com reações”. É transversal a ideia de que há ainda um longo caminho para a valorização da reportagem – quer no ensino académico, quer em iniciativas complementares – mas as posições dos estudantes presentes e o seu entusiasmo com as experiências vividas neste domínio deixam antever um futuro promissor (contrariando a frequente “cultura do eu”).

 

 

A segunda parte desta tarde arrancou com o painel ‘Noticiar a União Europeia por atuais e futuros jornalistas’, que se dedicou aos desafios de noticiar a União Europeia, através da conversa entre jornalistas (e correspondentes) e assessores de imprensa.

Uma das ideias forte deste painel assentou na diversidade de olhares necessária para este processo. Tal tornou-se visível aquando da partilha de histórias simbólicas relativas à cobertura de assuntos europeus, sendo destacados assuntos diversos como o Brexit, o atentado de Estrasburgo e as reuniões de Bruxelas. Para além destes testemunhos iniciais, este painel possibilitou a discussão sobre a necessidade de melhorar as pontes entre as instituições europeias e os cidadãos, através dos jornalistas, e a relevância das reportagens sobre assuntos europeus para o efeito.

Deste debate, resultou a ideia transversal de que noticiar a Europa é desafiante, mas tem que ser feito (e bem feito) para bem de todos os cidadãos. Por outro lado, reforçou-se a obrigatoriedade de desconstruir a noção de distanciamento, uma vez que os assuntos europeus são também (ou podem ser) assuntos portugueses.

Também foi consensual a eficaz relação entre as instituições europeias e os jornalistas presentes, assente na criação de condições, por parte das primeiras, para que os segundos possam realizar a sua função de escrutínio da melhor forma – como é exemplo a partilha de documentos, informações e recursos diversos. Num momento de interpelação direta aos futuros jornalistas, deixou-se a ideia clara de que é possível “bater à porta” das instituições europeias, pois estas estão prontas para apoiar neste processo, de forma livre e transparente.

Este painel terminou com um conjunto de conselhos para os mais jovens, destacando-se, sobretudo, as ideias de proatividade, de procura de oportunidades de intercâmbio e de saída da zona de conforto, do cultivo de uma visão multidisciplinar sobre a realidade, da constante informação e, ainda, da construção de uma conceção crítica sobre os assuntos europeus.

 

 

Daniel Rosário, Porta-voz da Comissão Europeia em Portugal, e Rita Baptista, Assessora de Imprensa da mesma instituição, concluíram as intervenções da Comissão Europeia em Portugal com a apresentação e balanço da iniciativa ‘ReportEU’. Este projeto, realizado em colaboração com o REC, procurava dar a oportunidade a estudantes universitários de criar reportagens sobre temas europeus, relevantes e inovadores.

O sucesso desta primeira edição veio reforçar a necessidade de criar instrumentos e formatos que sejam capazes de apelar aos mais jovens e, simultaneamente, possibilitar a criação de sinergias (com a academia, redações e o mercado). Esta conferência foi, ainda, palco da divulgação exclusiva das três reportagens selecionadas. A lista pode ser consultada aqui.

No encerramento da conferência, Sandra Marinho, presidente da direção do REC, focou duas palavras: gratidão e futuro. Relativamente à primeira dimensão, foi destacado o papel de todos os participantes nesta conferência, de modo particular, a rede REC, a Representação da Comissão Europeia em Portugal e o CreateLab (agência responsável pela comunicação do evento). Já no que toca à vertente prospetiva, a professora e investigadora sublinhou que, para o jornalismo ser o pilar da democracia, este tem que reunir o olhar crítico e atento de todos (incluindo dos cidadãos).

Há um denominador comum a todas as intervenções nesta conferência: a formação no/do jornalismo. Apontou-se, assim, a necessidade de um debate aberto e diverso sobre este assunto, sem cair na tentação de transformar este tipo de debates em algo de natureza pontual. Desta forma, a conferência ‘Ensino do Jornalismo: entre a escola e a redação’ representa mais um passo nesta jornada conjunta do REC.