Almejam viver apenas da música enquanto rimam pelas carruagens dos Metros por esse mundo fora. John Carlos, fundador do Coletivo Trilhos para o Mundo, explica como tudo começou e reflete sobre as diferenças entre atuar no Brasil e em Portugal.
É na paragem “Câmara de Matosinhos”, no Porto, que encontramos John Carlos (johnmcrap), Gustavo Borges (2n.mc) e Kauã Zurc (kmzdovagao). Juntos formam o Coletivo dos Trilhos para o Mundo, um grupo que acredita na liberdade do improviso.
Enquanto os passageiros se juntam para embarcar em mais uma viagem de Metro, o coletivo, fundado por John Carlos, prepara-se para iniciar uma nova apresentação de improviso pelos corredores da rede de Metro da cidade invicta.
Assim que a carruagem alcança a paragem e abre as suas portas para deixar entrar novos viajantes, John Carlos liga a coluna que tem nas mãos e com a música começa o improviso, que não deixa os viajantes indiferentes.
“Boa tarde a todos! A gente faz parte do Coletivo dos Trilhos para o Mundo”. É assim que começa a performance do grupo que deambula pelo metro ao ritmo da música e das rimas improvisadas. As batidas e as rimas despertam a curiosidade dos utilizadores do Metro do Porto, mas nem todos reagem da mesma maneira. Entre os que se mostram mais tímidos e que não reagem, há também os que vão sorrindo, dando a oportunidade perfeita a novo improviso do rapper.
Há rimas para todos os gostos e se nuns casos o improviso se faz na interação com os viajantes, já noutros casos a improvisação é feita de piadas, capazes de conquistar até os mais introvertidos.”Uma vez me falaram/E eu guardei na memória/ Que um homem sem barriga/ É um homem sem história”.
O Coletivo dos Trilhos para o Mundo nasceu no Brasil, onde John Carlos já fazia atuações de improviso. “O Coletivo começou quando eu vim para cá. Comecei a me apresentar sozinho e apareceram uns portugueses querendo fazer também, pedindo para eu ensinar eles. Aí eu comecei a ensinar eles, só que eu já tinha um nome, desde o Brasil”, explica o rapper.
O fundador do Coletivo já atuou em diversas cidades brasileiras, antes de iniciar o seu percurso por Portugal, e reconhece que existem diferenças culturais na forma como as pessoas reagem às atuações na via pública. “Em São Paulo já é normal isso (atuar em público) porque cada estação tem um artista. São Paulo é muito grande. Portugal não chega nem perto de São Paulo. Então tem muitos artistas lá e as pessoas já não ficam tão impressionadas. Já rimei no Rio de Janeiro, já fui para vários lugares. Fui bem recebido por todo o mundo. E aqui em Portugal não é diferente, as pessoas me recebem bem”, realça John.
O Coletivo garante que respeita o espaço de todos, mas acredita também que não existem limites para a liberdade de expressão. John Carlos reconhece que as pessoas têm o direito de se sentirem ofendidas e pedirem aos rappers que parem: “a gente não está aqui para desrespeitar ninguém”, ressalva o fundador do Coletivo.
Para John Carlos a escolha do hip hop para se expressar não surge por acaso, mas está ligada às suas vivências. “Foi importante na minha vida porque mudou a minha vida. O movimento hip hop é muito importante pelo menos para mim, salvou a minha vida. Não só a minha, mas como de muitos amigos meus”, revela o artista.
Depois de ter pisado o Hard Club, no Porto, John Carlos realça que o seu maior objetivo continua a ser viver da música e aconselha os jovens que o queiram fazer a terem “foco e persistência” e a acreditarem em si mesmos – “Ele tem de acreditar no que ele está fazendo, se ele acredita na ideia dele, não tem porquê ter medo de expressar isso”, explica o rapper.
A viagem termina com a chegada à estação da Trindade. Os rappers abandonam aquele que foi o palco de mais uma atuação de improviso e partem à procura de novos trilhos pela cidade Porto, com a certeza de que se sentem livres a improvisar.