Só o amanhecer do dia 5 de março deixou ver a imagem que ninguém queria enfrentar. A Ponte Hintze Ribeiro caiu há 20 anos, numa noite de tempestade e nevoeiro cerrado. Duas décadas depois, ainda há um luto por fazer e marcas bem presentes na comunidade.
Não há dia em que Célia Alves se esqueça dos momentos felizes que viveu com a mãe. É o que mais importa hoje. A ideia de uma relação que nem um acidente quebrou. O tempo apaziguou uma dor tremenda mas a tragédia ainda se vive no presente. Só vinte e três das cinquenta e nove vítimas foram encontradas e não é de espantar que ainda existam famílias incapazes de cumprir o ritual de luto.
Conceição Rodrigues viveu a tragédia por várias razões: era diretora das escolas de Raiva e o marido era presidente da Junta de Freguesia de Raiva, onde viviam 34 das vítimas mortais. No trabalho e em casa, o assunto não era outro. Há memórias nítidas desses dias em que apagar o quadro foi uma missão impossível porque se rompia com uma vã esperança.
O assunto correu o mundo e a cobertura jornalística fez-se em várias línguas e registos. Era a estreia das longas emissões em direto e o que passou em antena não foi consensual.
20 anos depois, há obras estruturais que continuam sem sair do papel. O IC35, que ligaria Castelo de Paiva a Penafiel, é um exemplo. Ouve-se dizer, por cá, que este é um concelho à espera do futuro.
Neste programa participaram Bernarda Santos, da Universidade do Minho; Alexandre Matos, Pedro Oliveira, João Couraceiro e Beatriz Jorge, da Universidade do Porto; Bruno Sevivas, Carlos Ferreira e Pedro Batista, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; e Ana da Cunha, Beatriz Ribeiro, José Carlos Duarte e Rúben Henriques da Universidade Nova de Lisboa. Com locução de Vânia Barbosa e edição de Duarte Ferreira, ambos da Universidade do Porto e pós-produção de Miguel van-der Kellen da Universidade Autónoma. A coordenação do programa é de José António Pereira, jornalista da RTP.