A memória conta histórias e as nossas histórias também contam as memórias de quem somos e de quem fomos. Esta foi a minha primeira experiência no REC e, também por isso, este programa ficará na minha memória e fará parte da minha história.
Neste episódio, os nossos Repórteres em Construção foram em busca de diferentes pedaços de vida. Os protagonistas deste programa não têm muito em comum, mas cada um deles aceitou contar a sua história e partilhar um pouco das suas vidas. A riqueza deste programa está, precisamente, nessa diversidade e nessa partilha.
Recuamos aos anos 70 e à fábrica onde trabalhavam Otília Bicho e Francisco Curto, na Covilhã, para logo em seguida sermos transportados para cima do palco do Grupo de Teatro Terapêutico, onde ouvimos contar a catarse através da arte. Ainda escutamos o som dos ensaios do grupo ao longe e já estamos sentados na sala do músico Júlio Pereira, enquanto o sentimos trautear e dedilhar o som do cavaquinho, um instrumento com décadas de história que tem, agora, um museu.
Os Querubim não têm décadas de história, mas têm memória. E hoje querem conquistar os palcos de indie pop portugueses, porque um dia despertaram para a música, em viagens de carro com os pais, ou em frente à televisão a ver o Batatoon. E enquanto ouvimos estes jovens talentos da música nacional, embrenhamo-nos na leitura dos diários de Amândio Martins e Daniel Costa. As páginas que contam as suas histórias têm meninos de 5 anos, descalços, a chapinhar nos charcos, em pleno inverno.
E lá perto, as páginas do álbum de fotografias de Fernando José e do seu “Pelotão dos Solidários” são recordações a preto e branco de uma guerra que deixou marcas e cicatrizes a quem por lá passou.
O escritor e jornalista Mario Vargas Llosa classificou a memória como uma armadilha. Porque ela reorganiza o passado, de modo a que ele se encaixe no presente. E cada uma das vozes que passaram por este episódio do REC trouxe um pedaço do seu passado e teve a generosidade de o partilhar com cada um de nós, acrescentando, certamente, um pouco de história às nossas vidas presentes.
Neste programa participaram Ana Margarida Rodrigues, Carolina Fernandes e Inês Salvador, da Universidade da Beira Interior; António Veloso, Beatriz Afonso, Carolina Bento, Catarina Carreira, João Morais, Luzia Lambuça, Madalena Carvalho e Pedro Santos, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Ana Sofia Marques, da Universidade Autónoma de Lisboa; Ana Margarida Correia, Andreia Correia e Inês Mendes, do Instituto Politécnico de Leiria. A locução é de Sofia Pereira, da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu. A edição do programa e das reportagens multimédia é de Joana Martins, professora na Escola Superior de Educação de Viseu. A coordenação é de Miguel van-der Kellen, professor da Universidade Autónoma e formador no Cenjor.