Neste episódio do REC falamos de fronteiras, mas num sentido diferente daquele a que estamos habituados. Quando pensamos em fronteiras referimo-nos normalmente a limites geográficos, à separação entre territórios, a marcos que definem o que é nosso e o que é dos outros. Mas as fronteiras podem ser bem mais poderosas quando são invisíveis, quando limitam sem que nos demos conta, deixando muitos a viver nas margens.
Grande parte das sociedades ergueu-se a partir desta ideia de delimitação física do espaço, mas hoje, a separação a que tantas vezes assistimos é mais poderosa, ainda que seja quase sempre invisível. Falamos dos muros que se erguem nas sociedades e que apesar de não se verem, podem contribuir para o desencontro, para a exclusão, para o conflito, simplesmente porque existem conceções diferentes da vida, visões particulares do mundo que nos rodeia.
As três histórias que damos a conhecer neste programa são muito diferentes entre si, mas têm em comum esses muros sociais que se ergueram em torno de gente que, num determinado momento, foi colocada e mantida nas margens. Na primeira das histórias ficamos a conhecer o cônsul que arriscou a vida para salvar os outros além-fronteiras. Através de testemunhos e relatos familiares, compreendemos como foi tardio o reconhecimento de Aristides de Sousa Mendes e como as novas gerações pouco sabem desta figura ímpar da história de Portugal.
Da história do diplomata condenado à penúria e ao ostracismo até ao fim da vida, seguimos para a realidade do infrator que a pulseira eletrónica já mantinha em casa antes do confinamento, na companhia de uma doente presa à invalidez. Limitados a quatro paredes, ficamos a conhecer dois irmãos que as circunstâncias da vida juntaram numa luta contra o tempo.
Terminamos o episódio com a história dos terapeutas tradicionais, tantas vezes comparados a bruxos, e que as organizações médicas rejeitam, por considerarem as suas práticas não científicas. Habituados a viver na fronteira do preconceito, estes profissionais continuam a acreditar na possibilidade de quebrar os muros sociais que têm sido construídos à sua volta.
As histórias contadas neste episódio do REC são muito diferentes, mas a uni-las está essa ideia de que é possível quebrar as fronteiras invisíveis que os limitaram a viver nas margens.
Neste programa participaram Leonardo Cabana, da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa; Bárbara Moreno, da Universidade Autónoma de Lisboa; e Júlio Rendeiro, Cristina Guerreiro e Beatriz Pina da Universidade da Beira Interior. A locução foi de Emanuel Brasil da Universidade da Beira Interior. A edição e a coordenação são de Ricardo Morais, com o apoio de José Ricardo Carvalheiro, professores na Universidade da Beira Interior. A pós-produção áudio é de Miguel van-der Kellen, professor da Universidade Autónoma e formador no Cenjor.