Quando o REC foi para o ar, tentámos dizer num pequeno texto o que queríamos que este projeto fosse. Definimo-nos na altura com palavras como “aliança estratégica”, “reflexão”, “discussão”, “colaborações” ou “aprender”. E colocámos no centro a “reportagem”. Um ano depois, fazemos um balanço do Repórteres em Construção. É uma conversa entre a Teresa Abecasis, o Francisco Sena Santos e o Miguel van der Kellen – que fazem parte da equipa que coordena o REC –, com a Manuela Pires – uma voz do REC, da Rádio Renascença –, guiada pela Isabel Pereira.
Avaliar a curta vida de um projeto que tentou articular os diferentes agentes da formação em jornalismo implicou ouvi-los: os estudantes, os professores, os jornalistas e os parceiros institucionais – o Cenjor e o Sindicato dos Jornalistas (que financiou este primeiro ano, com a Casa da Imprensa e o Clube de Jornalistas). A partir de todas estas vozes foi possível reconstituir o alcance da “aliança estratégica” que ambicionávamos pôr em marcha. E não estamos completamente satisfeitos: queremos ter mais jornalistas a colaborar com o REC e queremos trabalhar com mais órgãos de comunicação, seja de forma regular (como acontece com o programa de rádio na Renascença), seja em parcerias esporádicas, como foi o caso da Grande Reportagem com a SIC Notícias.
Uma parte substancial das “colaborações” do REC é com as escolas que ensinam jornalismo no ensino superior: alunos e professores. É uma lista que vai variando, mas que se estabilizou em 15 parceiros de todo o território continental. E como o REC é, acima de tudo, um local para “aprender”, a formação foi desde logo um eixo central. Pelas formações do REC – com o apoio do Cenjor – passaram 164 estudantes e professores, que produziram os trabalhos dos 12 temas de 2019. O feedback dos alunos fez-nos perceber que era preciso insistir na locução e assim surgiu a formação em Voz e Dicção, que já teve duas edições, com 30 participantes. São bons os números do REC, mas podemos ir mais longe. Queremos envolver os alunos na definição dos temas e tentar levar o REC a mais zonas do país (estivemos em Braga, Coimbra e Abrantes, mas a maior parte da formação foi em Lisboa), reforçando a nossa presença na academia, com workshops ou pequenas sessões de debate sobre o assunto que nos une: o ensino do jornalismo. E queremos contribuir com publicações: com um Livro de Estilo e com uma publicação pedagógica dedicada à reportagem, que é, afinal, o género jornalístico do REC.
E agora a “reflexão” e “discussão”. Têm sido constantes num projeto cheio de mudanças, avanços e recuos, num tempo tão curto de vida. Temos um modelo de funcionamento em permanente transformação, porque tenta responder a necessidades que vamos descobrindo à medida que avançamos. Porque não há modelo. E isto tem tanto de difícil – por vezes até confuso – como de desafiador. Mas não chega a discussão que fazemos entre quem participa no REC: a ideia é promover um diálogo alargado. Contamos que o Provedor do REC (que, a partir de hoje, vai publicar no terceiro domingo de cada mês) ajude a fomentar a conversa. O Joaquim Fidalgo explica aqui o que vai ser este espaço. Temos outra ambição: a de organizar uma conferência que junte gente interessada em debater o ensino do jornalismo, com o objetivo de recolher contributos que apoiem as decisões dos cursos de jornalismo na organização dos planos de estudos e programas das disciplinas.
Não tínhamos um modelo que nos servisse de guia para trabalhar nem temos um que nos permita funcionar: um modelo de financiamento. Qualquer projeto de formação ou de jornalismo vive com esta preocupação e o REC também a tem. Até agora fomos financiados pelo Sindicato dos Jornalistas, pela Casa da Imprensa e pelo Clube de Jornalistas, mas temos de garantir o futuro. Sabemos que é um assunto difícil, já o abordámos e está na ordem do dia. Temos de continuar a trabalhar nisto.
Sempre dissemos, e mantemos, que o REC não é um órgão de comunicação – mas quer ter os média como parceiros – e, sendo um projeto de formação, não quer substituir os cursos da área – quer ser um complemento para aquilo que os cursos (ainda) não conseguem fazer. Pode dizer-se que é essa a nossa grande aspiração: que o REC seja um centro de recursos pedagógicos. Não só pela experiência de aprendizagem que proporciona (juntando alunos, jornalistas e professores), mas constituindo-se, a partir dos conteúdos que publica, como um espaço a partir do qual é possível ensinar e aprender. Como? Por exemplo, usando os trabalhos do REC como ponto de partida para aulas sobre reportagem ou recorrendo aos materiais que vamos disponibilizar no separador do site dedicado à Formação. Dizíamos há um ano: “Um, dois, três. Está no ar o REC”. O REC mantém-se “no ar” e com vontade de continuar, com a mesma orientação com que começou: não é um lugar de trabalhos perfeitos, é um lugar para os jornalistas em construção.