Nunca houve tantas fontes de informação, nunca a atualidade foi tão diversificada e nunca houve tantos jornalistas. Mas o jornalismo vive confrontado com incertezas. Falta que seja encontrado um modelo económico que sustente o jornalismo como modo de relato da verdade dos factos relevantes e para ajudar a compreender a realidade do mundo e a que nos está mais próxima.
O jornalismo e os desafios no ofício de jornalista são o tema desta edição de outubro do REC – Repórteres em Construção. Começamos pelos primeiros passos no ofício. A reportagem de Gustavo Carvalho e de Magda Cruz, alunos do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa, conta-nos a perceção de jovens jornalistas sobre o estágio numa redação. É uma porta de entrada mas, queixam-se alguns, demasiado giratória com casos de exploração de trabalho não remunerado.
Há quem ouse a prática em regime livre, por conta própria. A reportagem de Maria Inês Moreira e de Susana Martinho, alunas do curso de Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto leva-nos ao encontro de repórteres que desenvolvem o ofício como freelancer.
Como é a prática dos jornalistas que trabalham como correspondentes, em diferentes regiões, fora da redação central? É o que vamos ouvir na reportagem de Maria Coelho e Raquel Silva, alunas do curso de Jornalismo e Comunicação na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre.
Há, nas redações, uma questão de género? Até 1974, a percentagem de mulheres jornalistas em redações portuguesas era insignificante. Em setembro de 2019 a diferença está muito esbatida: 2298 mulheres com carteira profissional de jornalista, ao lado de 3344 homens igualmente habilitados (números da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista). A reportagem de Marta Mixão e Sónia Sul, alunas do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa, mostra-nos a evolução da presença de mulheres nas redações.
Questão fundamental: que perspetivas há de sustentabilidade, no plano imediato e futuro, para o jornalismo de qualidade. O ponto de vista de Francisco Pinto Balsemão, fundador do grupo Impresa, de Manuel Carvalho, diretor do jornal Público, de Pedro Braumann, diretor do Centro Museológico e Documental da RTP, de Pedro Norton, administrador não executivo da Fundação Gulbenkian e ex-gestor do grupo Impresa, de Ricardo Esteves Ribeiro, cofundador do jornal digital Fumaça, e de Vera Moutinho, jornalista multimédia do jornal Público, chega-nos através da pesquisa conduzida por Ana Rita Asseiceiro e Inês Messias, alunas do curso de Jornalismo da Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa.
“Temos de trabalhar de outra maneira. O jornalismo tem de se proteger da tentação de ficar pela superfície, tem de ir à profundidade dos factos.”
Francisco Pinto Balsemão, fundador da Impresa
“As assinaturas digitais são a luz que começa a aparecer ao fundo do túnel. A subscrição das edições online é a fonte de receita que pode dar sustentabilidade às empresas de comunicação social.”
Manuel Carvalho, diretor do Público
“Há o risco de o jornalismo se tornar cada vez menos relevante.”
Pedro Braumann, diretor do Centro Museológico e Documental da RTP
“As pessoas estão a sentir que o bom jornalismo lhes faz falta. Muita gente está a tomar consciência da sua responsabilidade individual para que o bom jornalismo progrida.”
Pedro Norton, administrador não executivo da Fundação Gulbenkian e ex-gestor da Impresa
“O papel do jornalismo é o de escrutinar a democracia e questionar as decisões que são tomadas.”
Ricardo Esteves Ribeiro, cofundador do Fumaça
“Qualquer dia vamos ter tudo nos nossos óculos ou num chip na nossa pele mas, para o jornalismo, a tecnologia não é o principal.”
Vera Moutinho, jornalista multimédia do Público