Carlos Nunes Filipe, psiquiatra e Coordenador do Gabinete de Apoio ao Aluno da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, explica ao REC o que sente quem sofre de “humor triste”.
Uma doença que pode levar um estudante universitário a pensar que “ninguém gosta de mim, sou feio, não valho nada”, e que só se ultrapassa conjugando medicação e psicoterapia.
Como é que um universitário pode saber se está com depressão?
Da mesma forma que qualquer um de nós. Há sintomas de alarme, é completamente diferente estar deprimido ou estar triste. Eu posso estar triste porque qualquer coisa desagradável me aconteceu na vida. A depressão é diferente, não é um acontecimento. É um estado, mas que se mantém durante um período prolongado, que nós consideramos de no mínimo um mês.
Quem sofre de depressão tem aquilo a que chamamos o humor triste, uma situação em que é difícil alegrar-se com o que lhe acontece, mesmo coisas boas. A tendência para olhar para o copo como meio vazio e nunca como meio cheio. Podem também surgir uma série de sintomas: alterações do apetite, falta de força, dificuldade em antecipar o futuro, de tomar a iniciativa, de mobilizar-se. Outras vezes são alterações do sono, como a insónia. E pode atingir situações muito graves, extraordinariamente inibidoras.
No estudante universitário os sintomas serão necessariamente idênticos. Falta de vontade para estudar. Olhar para o futuro e dizer: “eu não vou nunca ser capaz de acabar o curso. Ninguém gosta de mim, sou feio, não valho nada”.
Conseguem, na faculdade, estar atentos a este tipo de situações?
Sim. Já tem sucedido entrarem em contacto comigo e dizerem-me: “tenho aqui um aluno ou uma aluna que não me parece que esteja bem”. Aquilo que eu proponho sempre é que falem com o aluno, porque a procura do apoio tem que partir dele.
Que ajuda deve procurar um estudante que se sente deprimido?
Em primeiro lugar deve procurar o apoio de um profissional. Pode ser um psicólogo, mas, em meu entender, deve ser em primeiro lugar ou simultaneamente, um psiquiatra. Por uma razão: o psiquiatra ou os clínicos gerais têm já uma cultura médica suficiente para dar algum apoio farmacológico, que depois crie o terreno para que a psicoterapia possa atuar. Os melhores resultados obtêm-se com uma intervenção conjunta. Hoje em dia, felizmente, temos um tipo de medicação que não tem nada que ver com o que havia há 20 anos. Os efeitos secundários, que eram muito complicados, praticamente desapareceram.
Existem casos em que a depressão leva ao suicídio…
No caso da depressão, o que acontece é que o suicídio surge em situações em que a pessoa não vê qualquer futuro. Aquilo que tem ao fim do corredor é uma parede. E essa tal ausência de percepção de futuro, faz com que a vida deixe de ter qualquer significado e pode levar a uma situação de suicídio. A pessoa não aguenta mais. São situações que acontecem com alguma frequência na população idosa, uma população mais solitária. Na [faixa etária] dos estudantes universitários, suicídios por depressão pura não são comuns.
Como podemos ajudar quem está na universidade e mostra sintomas de depressão?
Encaminhando. A ajuda tem de ser obrigatoriamente uma ajuda profissional. Não é com pancadinhas nas costas. Não é telefonando à noite a perguntar se está melhor. É mesmo encaminhando para um serviço de apoio.