Alexandre Pinto já vestiu a pele de estudante, historiador, professor e empresário. No entanto, foi enquanto empreendedor que arriscou juntar dois ingredientes que, considera, combinam de forma “pouco óbvia”: as Humanidades e a tecnologia.
“O casamento feliz resultou naquilo que é hoje uma consultora na área dos conteúdos”, explica o criador da iClio. A empresa de Alexandre Pinto deve o nome à musa da História, Clio, e o pormenor do “i” ao ideal de inovação que protagoniza. A JiTT.travel, aplicação que se desdobra numa roteiro turístico à escala mundial, é o produto mais paradigmático da empresa.
Alexandre ingressou no curso de História pensando entrar numa licenciatura tradicional. Mas, qual embarcação que parte sem a certeza de conseguir chegar à Índia, acabou por construir um futuro que o levou além daquilo que era conhecido e vivido pelos licenciados em Humanidades. A sede de novos mundos, que partilha com figuras históricas que durante anos estudou, foi despertada por uma cadeira de Introdução à Informática que frequentou ainda no primeiro ano. Trocou as caravelas pelos meios digitais e encontrou fiéis marinheiros em professores e colegas que, sem cartas de marear, se deixavam guiar pela ânsia de descobrir novas utilidades para a História.
“A iClio está quase a completar uma década, com altos e baixos como qualquer empresa”, declara Alexandre Pinto. A ideia de criar um guia turístico digital valeu-lhe um sucesso mais académico do que económico. “O negócio não correspondeu ao inicialmente projetado”, lamenta o empresário. Ao refletir sobre os maiores entraves, Alexandre Pinto vê no mercado e na competição as correntes marinhas mais traiçoeiras. As Humanidades Digitais são “um cruzamento pouco óbvio”, explica. Exemplifica que não se espera que um historiador esteja à frente de uma empresa de tecnologia.
Mais do que as especiarias indianas ambicionadas pelos descobridores de outras épocas, Alexandre Pinto salienta o empreendedorismo como o maior trunfo das Humanidades. “Com base no conhecimento do passado e do presente, é possível projetar o futuro”, ilustra o empresário.
A iClio conta hoje com onze colaboradores. Cinco devem a formação às áreas das Letras. O currículo ligado às Humanidades garante-lhes uma forma de pensar e de refletir particular e conserva-lhes a capacidade de sonhar, assegura Alexandre Pinto. No entanto, lamenta uma certa falta de dinamismo e proatividade que considera comum a alguns profissionais da área. “O empreendedorismo não pode ser um exclusivo das ciências exatas e da economia”, argumenta.
Com a consciência de que o trilho das Humanidades Digitais ainda esconde inúmeras potencialidades, Alexandre Pinto recorda o “percurso curioso que já foi feito”. Entre os fundadores da rede social Facebook, por exemplo, está um licenciado em História e Literatura, Chris Hughes.
Alexandre Pinto livrou-se dos enjoos de alto-mar enfrentados pelos sonhadores de outros tempos, mas não deixou de aprender “batendo com a cabeça nas paredes”, revela. Quanto ao futuro, espera continuar a harmonizar “soluções inteligentes, funcionais e agradáveis”, sem desvendar onde pretende, um dia, atracar.